O que é Pectus?

Pectus é o nome dado a um conjunto de deformidades da parede torácica, como pectus excavatum (tórax em funil) e pectus carinatum (peito de pombo). Essas condições atingem milhões de pessoas no mundo e ainda são pouco conhecidas fora do meio médico, em parte porque muitos pacientes tendem a escondê-las por vergonha ou receio de julgamento. Registros de alterações torácicas compatíveis com pectus aparecem desde a Antiguidade.

Embora a aparência do tórax seja o aspecto mais visível, o pectus não deve ser entendido como um problema exclusivamente cosmético. A condição frequentemente impacta a autoestima, a vida social e o bem-estar emocional de pacientes e familiares. Por isso, merece uma abordagem informada, empática e baseada em evidências, com espaço para diálogo e apoio à pessoa que convive com a deformidade.

Falar abertamente sobre o tema reduz estigmas, favorece a identificação precoce e orienta a busca por avaliação especializada, permitindo discutir, com segurança, as opções terapêuticas mais adequadas para cada faixa etária e padrão de deformidade — incluindo abordagens conservadoras quando indicadas. Informação clara e acessível é um passo essencial para que pacientes e famílias façam escolhas conscientes e trilhem um cuidado mais acolhedor e efetivo.

Tipos de Pectus

Pectus Carinatum (Peito de Pombo) é uma deformidade da parede torácica caracterizada pela projeção para frente do esterno e das cartilagens costais, resultando em uma aparência de tórax proeminente.

Pectus Excavatum (Peito Escavado ou Tórax em Funil) é uma deformidade da parede torácica caracterizada pela depressão do esterno e das cartilagens costais anteriores, resultando em uma aparência de afundamento central do tórax.

Exames complementares

São solícitos avaliação de imagem para tórax e coluna vertebral. Por outro lado, as fotografias clínicas são eficientes e menos dispendiosas para avaliar a evolução do tratamento das deformidades pectus. Em pacientes com pectus excavatum com queixas respiratórias ou cardíacas, pode ser solicitado exames cardiopulmonares, mas na prática a grande maioria desses exames são normais.

Tratamento conservador do pectus com colete (Método de Remodelação Dinâmica do Tórax)

Este tratamento baseia-se no chamado Método de Remodelação Dinâmica do Tórax. A ideia central é simples e poderosa: combinar pressão externa controlada, exercida por órteses específicas, com exercícios que aumentam a pressão intratorácica. Esse “equilíbrio de forças” atua simultaneamente sobre áreas que protrudem e áreas deprimidas do tórax, favorecendo a remodelação gradual da caixa torácica.

Como o método funciona na prática

  • O colete aplica pressão externa dinâmica nas regiões salientes (por exemplo, no pectus carinatum).
  • Exercícios executados durante o uso da órtese elevam a pressão dentro do tórax, ajudando a sustentar áreas deprimidas (relevante no pectus excavatum).
  • Ao longo do tempo, essa combinação orienta o crescimento e a maleabilidade das cartilagens costais e do esterno, promovendo alinhamento mais fisiológico.

Esse conceito foi descrito em publicação internacional em 2006, consolidando o termo “dynamic remodeling” para designar a associação de órtese e exercícios sob supervisão médica.

Tipos de órteses e evolução dos dispositivos

Historicamente, foram desenvolvidos modelos diferentes para cada padrão de deformidade, sendo o mais atual os Modelos ajustáveis (CDTA): projetados para facilitar o ajuste fino pelo médico e pelo paciente ao longo do tratamento, tornando as adaptações mais ágeis conforme o tórax responde.

Independentemente do modelo, o princípio é o mesmo: pressão externa bem dosada e dinâmica, associada a um protocolo de exercícios.

Imagens fornecidas pela Orthopectus

Confecção, ajuste e supervisão são determinantes

O sucesso do tratamento com colete depende de três pilares:

  1. Avaliação inicial completa 
  • Análise do tipo de pectus, idade, fase de crescimento e, principalmente, da flexibilidade da deformidade.
  • Definição do prognóstico e do plano individualizado.

 

  1. Órtese sob medida e bem adaptada 
  • Feita por medidas precisas ou por molde, sempre de acordo com a anatomia do paciente.
  • Ajustes de conforto e de pressão são checados pelo médico; ao longo do tratamento, pode ser necessário alargar, reposicionar ou modificar componentes.

 

  1. Acompanhamento estruturado 
  • Orientação clara das horas de uso diárias em cada etapa.
  • Programa de exercícios específicos explicado pelo médico e ensinado por profissional habilitado.
  • Documentação fotográfica antes, durante e ao final para monitorar evolução.
  • Condutas preventivas e corretivas para eventuais intercorrências (por exemplo, hipercorreção).

 

Importante: por envolver avaliação clínica contínua e decisões de ajuste, este é um procedimento médico. A supervisão por não-médicos não é recomendada. Para pacientes de outras cidades/estados, o acompanhamento à distância pode ser viável após consulta inicial, desde que todos os detalhes do protocolo tenham sido cuidadosamente orientados.

Exercícios: parte integrante do tratamento

  • Durante o uso do colete: exercícios que aumentam a pressão intratorácica potencializam a remodelação do tórax.
  • Comorbidades como escoliose: a execução e a direção de certos movimentos (como inclinação lateral do tronco) podem exigir ajustes técnicos, definidos pelo médico conforme a curva principal.
  • Sem o colete: musculação, natação ou outros exercícios isoladamente não corrigem o pectus. Podem melhorar a postura e “disfarçar” a deformidade por hipertrofia, mas não remodelam a parede torácica. Em fase de crescimento, musculação sem o colete pode até acentuar protrusões.
  • Modalidades recomendadas: a natação (estilos costas e livre) costuma ser indicada sem a órtese, visando preservar a maleabilidade torácica e o condicionamento. Recursos como RPG e Pilates podem ser considerados caso a caso.

 

Para quem e quando é mais efetivo

  • Pectus carinatum: resultados costumam ser mais rápidos e evidentes nos tipos inferior e lateral, quando há boa flexibilidade e alta adesão.
  • Pectus excavatum: casos flexíveis, especialmente quando há saliência de rebordos costais, podem apresentar melhora satisfatória com a combinação de órtese e exercícios. Iniciar logo que a depressão se torna evidente tende a favorecer a resposta.
  • Idade e crescimento: por se tratar de uma remodelação que acompanha o desenvolvimento, é comum a necessidade de uma fase de manutenção até o final do crescimento para consolidar os ganhos.

 

Duração, adesão e expectativas realistas

  • A estabilização da correção pode levar mais de um ano.
  • A melhora depende de múltiplos fatores: tipo de pectus, flexibilidade do tórax, idade, ajustes oportunos da órtese e, sobretudo, adesão do paciente às orientações (horas de uso e exercícios).
  • Sem manutenção adequada, ganhos iniciais podem regredir, especialmente em pectus excavatum durante o crescimento.
  • Resultados variam: alguns pacientes obtêm grande benefício; outros têm evolução mais modesta. O ponto-chave é seguir um protocolo racional e individualizado.

 

Possíveis complicações e como evitá-las

  • Hipercorreção: descrita como a complicação potencialmente mais séria, pode ocorrer tanto no carinatum quanto no excavatum. A boa notícia é que, com acompanhamento frequente e condutas adequadas, é possível reverter e prevenir recorrência.
  • Pele e conforto: orientações sobre cuidados cutâneos, ajuste de pressão e tempo de uso reduzem desconfortos e melhoram a adesão.
  • Prevenção: consultas regulares, fotografias comparativas e ajustes proativos do colete fazem parte da estratégia de segurança.

 

O que esperar do processo

  • Avaliação e planejamento individual
  • Treinamento inicial sobre uso da órtese e rotina de exercícios
  • Revisões periódicas para checagem de fit, pressão e evolução
  • Ajustes do colete conforme o tórax remodela
  • Fase de manutenção até o término do crescimento, quando aplicável

 

Em síntese, o tratamento com colete no pectus é uma abordagem conservadora fundamentada em princípios biomecânicos claros e em protocolo clínico rigoroso. Quando bem indicada, confeccionada e acompanhada, pode oferecer uma trajetória de melhora consistente e segura — não apenas na forma do tórax, mas também no bem-estar psicológico e na qualidade de vida do paciente.